XII. O Pendurado (O Enforcado) |
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O Arcano da Fé, da aspiração Espiritual |
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Compilação de
Constantino K. Riemma
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Tarô de
Marselha-Camoin |
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Um homem está
suspenso, pelo pé, numa trave
de madeira que se apóia em duas
árvores podadas. Os dois suportes
são amarelos e cada um conserva
seis tocos da poda, pintados de vermelho;
terminam em forquilha, sobre as quais
repousa o pau superior. São verdes
as duas bases das quais
nascem as árvores da provação,
e nos quais brotam plantas de quatro
folhas. A corda curta que suspende o
homem desce do centro da barra transversal. |
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O personagem
veste uma jaqueta terminada em saiote
marcado por duas meias-luas, à
direita e à esquerda, que podem
ser bolsos. O cinto e o colarinho da
jaqueta são brancos, assim como
os dez (ou nove) botões –
seis acima e quatro (ou três)
abaixo da cintura. |
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A cabeça
do Enforcado encontra-se no nível
da base das árvores. Suas mãos
estão ocultas atrás da
cintura. Naturalmente,
a perna pela qual está suspenso
– a esquerda – permanece
esticada, enquanto que a outra está
dobrada na altura do joelho, cruzando
por trás a perna esquerda. |
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Significados simbólicos |
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Abnegação.
Aceitação do destino ou do sacrifício. |
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Provas iniciáticas.
Retificação do conhecimento.
Gestação. Exemplo,
ensino, lição pública. |
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Interpretações
usuais na cartomancia |
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Desinteresse,
esquecimento de si mesmo. Submissão
ao dever, sonhos generosos. Patriotismo,
apostolado. Filantropia, entrega
a uma causa. Sacrifício
pessoal. Idéias voltadas
para o futuro. Semente. |
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Mudança
de vida, iniciação,
abertura espiritual, sacrifício
por algo valioso. Paz interior,
nova visão do mundo. |
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Mental:
Possibilidades diversificadas,
flutuações. Indica
coisas em processo de amadurecimento;
não define nem conclui
nada. |
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Emocional:
Falta de clareza, indecisão,
particularmente no campo afetivo. |
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Físico:
Abandono de algumas coisas, renúncias,
projetos duvidosos. Impedimento
momentâneo para a ação.
Um assunto iniciado é abandonado
e só poderá ser
resolvido através de uma
ajuda. Do ponto de vista da saúde:
transtornos circulatórios. |
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Sentido
negativo: Êxito
possível, mas parcial,
sem satisfação nem
prazer, sobretudo em projetos
de ordem sentimental. |
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Reticências,
planos ocultos. Resoluções acertadas,
mas que não se executam; projetos abortados;
plano bem concebido que fica na teoria. Promessas
não cumpridas, amor não correspondido. |
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Impotência. Perdas. Auto-renúncia,
passividade. Os bons sentimentos
serão desviados para empreendimentos condenáveis. |
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História
e iconografia |
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Em 1591 –
tomando como testemunho a História
Eclesiástica de Eusébio
– Galônio descreveu as torturas
sofridas pelos mártires dos primeiros
séculos da cristandade. “As mulheres
cristãs – escreve – eram
freqüentemente suspensas pelo pé
durante todo um dia, e os algozes faziam de
tal modo que suas partes mais íntimas
ficavam a descoberto, de maneira a mostrar
o maior desprezo possível à
santa religião de Cristo”. |
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Crucificação
de Pedro.
Afrescoi de Filippino Lippi (1457-1504),
na Cappellla Brancacci, Florença,
Italia. |
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A suspensão
pelo pé foi amplamente executada
pelos supliciadores romanos
e há testemunhos também de vítimas medievais. Uma canção
de gesta do século XIII informa que
este castigo foi aplicado a um trovador por
um dos duques de Brabante, quando este o surpreendeu
em diálogo mais que musical com a duquesa. |
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Mas o enforcamento
pelo pescoço, mortal, tem histórias
mais remotas e, no caso de Judas,
trata-se de um gesto auto-imposto na
sequência do sacrifício
que fez para que se cumprissem as profecias. |
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Uma tradição
que vem dos primórdios da Igreja
cristã é a de que um outro
apóstolo, Pedro,
teria insistido em ser crucificado de
cabeça para baixo por não
se sentir digno de reproduzir o suplício
de Cristo. |
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No que diz respeito
às artes gráficas, há
inúmeras miniaturas dos séculos
XIII e XIV com reproduções
de santos e mártires pregados
pelos pés a uma barra elevada.
Mas é preciso chegar aos fins
do século XV para descobrir uma
imagem análoga à do Enforcado
do Tarô. |
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De outro ponto
de vista, pode-se dizer que a Antigüidade
nos deixou vários testemunhos
de figuras invertidas que em nenhum caso poderiam ser ligadas
ao suplício. Esta postura |
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é
adotada com freqüência por
divindades nuas assírio-babilônicas,
nos cilindros de argila que reproduzem
cenas de conjunto. |
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É possível
imaginar que as deusas nesta posição
significavam outra coisa: propunham uma leitura
ritual que, agora, parece absurda ou incompreensível. |
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Alguns estudiosos
lembram, a esse respeito, os ensinamentos
que atribuem ao homem o papel de estabelecer
a ligação entre o Céu
e a Terra, num espaço definido que o preserva |
de influências e contaminações.
“Toda suspensão no espaço
participa do isolamento místico,
sem dúvida relacionado à idéia
de levitação e de vôo
onírico”. |
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Muitas lendas,
de diferentes origens, atribuem aos enforcados
características mágicas
e os dotam de vidência e mediunidade. |
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Para Wirth,
interessado pelo simbolismo iniciático,
o protagonista do Arcano XII é
homólogo ao do Prestidigitador (I), já que também inicia
uma das vias, mas partindo do extremo
oposto do caminho. Neste sentido o vê
como o princípio de intuição
pelo qual o ser humano pode alcançar
um resplendor de divindade: como colaborador
da grande obra que mudará para
o bem a carga negativa do universo;
como a vítima sacrifical para
a redenção. |
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Atribuem-se
ainda ao arcano virtudes divinatórias
e telepáticas; é com freqüência
relacionado com a arte e a utopia. Alguns
o vêem como arcano possessivo,
mas é necessário compreendê-lo
num sentido puramente idealista, como
manifestação de amor
que carece de objeto individual (amor
ao próximo). |
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Uma especulação
interessante pode ser feita partir de seu
número na |
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ordem do Tarô, que
o relaciona ao décimo-segundo signo
do zodíacao, Peixes, ou ainda ao conjunto do simbolismo
zodiacal e ao dodecadenário:
os doze signos e os doze meses do ano, os
doze apóstolos, as doze tribos de Israel... |
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