sexta-feira, 28 de março de 2014

ANTONIN ARTAUD


La cultura no está en los libros ni en las pinturas ni en las estatuas ni en la danza, está en los nervios, en la fluidez de los órganos sensibles, en una especie de maná que duerme y que puede colocar al espíritu en una actitud de receptividad muy alta y de inmediata receptividad total que permite actuar en el sentido más digno, elevado y también más penetrable y fino.

A. A., en carta a Jean Paulhan (19 de julio de 1935)



De: CARTA ÀS ESCOLAS DE BUDAS 

 
Vós que não estais na carne,
que sabeis em que ponto de sua trajetória carnal,
de seu vai e vem insensato,
a alma encontra o verbo absoluto,
a palavra nova,
a terra interior.

Vós que sabeis como alguém dá voltas no pensamento
e como o espírito pode salvar-se de si mesmo.
Vós que sois interiores de vós mesmos,
que já não tendes um espírito ao nível da carne:
aqui há mãos que não se limitam a tomar,
cérebros que vêem além de um bosque de tetos,
de um florescer de fachas,
de um fogo e de mármores.
Ainda avance esse povo de ferro,
ainda que avancem as palavras escritas com a velocidade da luz,
ainda que avancem os sexos um até outro coma violência de um ‘canhonaço’,
o quê haverá mudado nas rotas da alma, o quê nos espasmos do coração,
na insatisfação do espírito?

Por isso, lança às águas todos esses brancos
que chegam com suas cabeças pequenas
e seus espíritos já manejados.
É necessário agora que esses cachorros nos ouçam:
Não falamos do velho mal humano.
Nosso espírito sofre as necessidades que as inerentes à vida.
Sofremos de uma podridão, a podridão da Razão.

A lógica da Europa esmaga sem cessar o espírito e volta a fechá-lo.
Porém agora, o estrangulamento chegou ao cúmulo,
já faz demasiado tempo padecemos sob sue jugo.
O espírito é maior que o espírito,
as metamorfoses da vida são múltiplas.
Como vós, rechaçamos o progresso:
vinde, deitemos abaixo nosso escribas escrevendo,
nossos críticos resmungando,
nossos agiotas roubando com seus moldes de rapina,
nosso políticos arengando
e nossos assassinos legais incubando seus crimes em paz.
Nós sabemos – sabemos muito bem – o que é a vida.
Nosso escritores, nossos pensadores, nossos doutores,
Nossos charlatães coincidem nisso: em frustrar a vida.

Que todos estes escribas cuspam sobre nós,
que nos cuspam por costume ou por mania,
que nos cuspam porque são castrados de espírito,
porque não podem perceber os matizes,
os barros cristalinos, as terras giratórias onde o espírito elevado dos homens se transforma sem cessar.
Nós captamos o pensamento melhor.
Vinde.
Salvai-nos destas lavras.
Inventai para nós novas moradas.

........
Texto do livro "Cartas aos Poderes", editora Villa Martha, Porto Alegre (RS), 1979. Este livro traz textos redigidos como se fossem cartas abertas, dirigidos contra instituições burocráticas e seus representantes, aos quais o movimento surrealista organizava seu clamor de protesto. O autor, que era homem de teatro, participava do grupo Central de Investigação Surrealista, tinha 29 anos quando escreveu os textos acima, em 1925 - sem ter a intenção de poesia, entretanto, estão impregnados de poesia. Tradução de Irineu Corrêa Maisonnave.

Mais Sobre Artaud você encontra:

Livro: o Teatro e seu Duplo - A. Artaud

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